
RIBAMAR VIEGAS
ESCRITOR LUDOVICENSE
Hoje, 08 de março, dia internacional da mulher, lembrei-me de Dona Generosa, uma mulher que se multiplicava.
Dona Generosa, além de charmosa, era educada, prestativa, atuante, comunicativa, influente, religiosa (não perdia missa aos domingos), caridosa e muito respeitada na comunidade onde morava. Na cama, Dona Generosa se multiplicava: era banho de gato, canguru perneta, lambretinha, garganta profunda, muçurana na toca, perereca engasgada, frango assado, até papai e mamãe. Ou seja: Dona Generosa era uma dama na sociedade e uma prostituta na cama. A mulher que todo homem gostaria de ter. Fazia jus ao nome. Gostava de servir bem. Era só ver o marido em trajes menores que logo chegava junto brincando de “mão boba”. E, dessa forma, Dona Generosa “pegava fogo” e as coisas aconteciam. E o agraciado de todos esses préstimos chamava-se Mundoca, o feliz consorte. Não era à toa que Mundoca vivia rindo até com dor de dente. E o recato da prendada esposa na presença de outros homens, a sua aflorante religiosidade, davam a Mundoca a certeza de não estar casado com uma ninfomaníaca, como ele chegara a pecar por pensamento.
Foi na manhã de um sábado. Dona Generosa havia saído para o supermercado deixando Mundoca na garagem da casa, metido num macacão azul, tentando regular o motor do seu FIAT-147. Não conseguindo a regulagem perfeita do carro, Mundoca convocou o mecânico Duricão (caboclo, alto e forte), que trajava também um macacão da mesma cor. Mundoca entrou em casa e Duricão ficou na garagem fazendo a regulagem do motor do carro.
Dona Generosa voltou das compras e, ao chegar à garagem da casa, deparou-se com aquela criatura vestida num macacão azul, de costas, cabeça e tronco enfiados debaixo do capô do carro, pernas abertas, fundilho passando do joelho (como ficara Mundoca quando ela saiu). A animada mulher não se conteve e, de ponta de pé, aproximou-se por trás, certificou-se de não haver mais ninguém olhando e, brincando de “mão boba”, pegou a “cachopa” por baixo, balançando-a duas vezes e, assumindo a sua postura de esposa generosa, cochichou maliciosamente:
─ Benzinhoooo! Vamos?!
Tal qual o bote lateral de um crocodilo faminto para alcançar a presa, Duricão sacou a cabeça de debaixo do capô do carro e, com os olhos arregalados com a esplêndida surpresa, prontamente respondeu:
─ Só se for agora!!
Quando Mundoca voltou à garagem – ainda de macacão azul −, Duricão já havia saído para testar o FIAT-147, levando de carona Dona Generosa cheia de justificativa por ter confundido os macacões, mas animadíssima com a baita disposição do mecânico e disposta a reparar-se com este da evidência daquele inusitado incidente, faz prevalecer sua gloriosa multiplicação dentro do FIAT 147.
O pecado por pensamento de Mundoca, em parte, estava perdoado, Dona Generosa não era uma ninfomaníaca explícita, tornava-se quando brincava de “mão boba”.







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